ETERNO
WILSON PRUDENTE – FALECIDO EM 22 DE OUTUBRO DE 2017
Conheci Wilson Prudente ainda
na campanha das Diretas Já. Era uma figura impressionante, com sotaque forte de
paulista e voz muito possante, discursava com muita facilidade em qualquer
lugar, falava rápido, também era alto, cabelo black power, gostava de usar macacão. Não havia como ele aparecer
em algum lugar sem ser observado. No filme “MUDA BRASIL” de 1985 ele aparece panfletando
numa rápida cena. Eram os tempos de encontros no restaurante Stake House de quintas à noite, de
comícios e panfletagens, festas de
campanhas de finanças, churrascos e
praia.
Uma marca do Prudente sempre
foi sua independência no pensar e no agir. Foi candidato pelo PT,
inclusive a vereador e prefeito de Niterói, mas sempre sem objetivo de se
eleger e sim de discursar e protestar. No final da década de 1980, passei a
encontrar Prudente nos dissídios coletivos, eu como advogado de sindicatos e
ele como o assistente da Secretária da Seção de Dissídios Coletivo, Dona Rose,
muito poderosa. Ele era funcionário do TRT.
Depois, no início da década de
1990 eu passei no concurso para juiz do trabalho, e ele ficou impressionado.
Começou a estudar muito. Estudou no Toga onde eu havia estudado. Lembro-me da
Bisa, dona do Toga, perguntando curiosamente sobre ele. Recordo-me de um dia
que o vi na areia praia de Itaipu debaixo de sol a pino lendo Caio Mario e se
preparando para as provas. Ele suava por seus objetivos. Um era ser juiz ou
procurador. Antes passou em 1º lugar no concurso de oficial de justiça, e foi
trabalhar em São Gonçalo onde eu era diretor do Fórum.
Fizemos o mestrado juntos na
primeira turma do PPGSD-UFF nos anos 2000-01, tempos de discussões memoráveis,
ao lado de Rodrigo Carelli, Rogério Lucas, Felipe Santa Cruz, Patrick Maia,
Rosilda Lacerda, Alexandre Bibiani, Eliete Telles, Roque Bonfante, Nilton
Soares, entre outros alunos, ao lado de professores como Marcelo Mello, Leonel
Resende, Roberto Fragale, José Ribas, Guadalupe, Maria Arair, Maurício Vieira,
Luis Friedman, Wilson Madeira e Napoleão Miranda. Não precisa dizer que Prudente era o que mais falava e não
raramente era cobrado de não ser muito científico. Prudente era emoção pura!
Como procurador do trabalho
atuou intensamente na luta contra o trabalho análogo à escravidão e em diversas
outras lutas, principalmente em defesa dos negros. Após passar no concurso, deu
cursos em todo o Brasil, e até numa sala que eu alugara em Niterói para cursos
sem finalidade lucrativa. Ele deu aulas para muitos que hoje usam togas. Ele
viajava por todo o Brasil como se fosse de um bairro para outro. Quando Lula
cogitou em nomear um negro para ser ministro do STF, seu nome foi lançado. Se
escolhido teria deixado o Joaquim Barbosa no chinelo, hehe.
Nossa última participação
juntos foi numa palestra promovida pela AFAT sobre Lei do Motorista de 2012. Em
um de seus aniversários, o que foi comemorado no Porcão de São Francisco, ele
estava muito contente. Sempre conseguia aglutinar com facilidade muitos
admiradores seus. Lá estava sua bela família, com suas lindas filhas e esposa,
imagem de felicidade que guardo com carinho.
Prudente, sempre presente, vai
ficar eternamente em nossas lembranças.
Ivan Alemão
29 de outubro de 2017