.

domingo, 29 de outubro de 2017

Homenagem a Wilson Prudente


ETERNO WILSON PRUDENTE – FALECIDO EM 22 DE OUTUBRO DE 2017



Conheci Wilson Prudente ainda na campanha das Diretas Já. Era uma figura impressionante, com sotaque forte de paulista e voz muito possante, discursava com muita facilidade em qualquer lugar, falava rápido, também era alto, cabelo black power, gostava de usar macacão. Não havia como ele aparecer em algum lugar sem ser observado. No filme “MUDA BRASIL” de 1985 ele aparece panfletando numa rápida cena. Eram os tempos de encontros no restaurante Stake House de quintas à noite, de comícios e panfletagens,  festas de campanhas de finanças, churrascos e  praia.

Uma marca do Prudente sempre foi sua independência no pensar e no agir. Foi candidato pelo PT, inclusive a vereador e prefeito de Niterói, mas sempre sem objetivo de se eleger e sim de discursar e protestar. No final da década de 1980, passei a encontrar Prudente nos dissídios coletivos, eu como advogado de sindicatos e ele como o assistente da Secretária da Seção de Dissídios Coletivo, Dona Rose, muito poderosa. Ele era funcionário do TRT.

Depois, no início da década de 1990 eu passei no concurso para juiz do trabalho, e ele ficou impressionado. Começou a estudar muito. Estudou no Toga onde eu havia estudado. Lembro-me da Bisa, dona do Toga, perguntando curiosamente sobre ele. Recordo-me de um dia que o vi na areia praia de Itaipu debaixo de sol a pino lendo Caio Mario e se preparando para as provas. Ele suava por seus objetivos. Um era ser juiz ou procurador. Antes passou em 1º lugar no concurso de oficial de justiça, e foi trabalhar em São Gonçalo onde eu era diretor do Fórum.

Fizemos o mestrado juntos na primeira turma do PPGSD-UFF nos anos 2000-01, tempos de discussões memoráveis, ao lado de Rodrigo Carelli, Rogério Lucas, Felipe Santa Cruz, Patrick Maia, Rosilda Lacerda, Alexandre Bibiani, Eliete Telles, Roque Bonfante, Nilton Soares, entre outros alunos, ao lado de professores como Marcelo Mello, Leonel Resende, Roberto Fragale, José Ribas, Guadalupe, Maria Arair, Maurício Vieira, Luis Friedman, Wilson Madeira e Napoleão Miranda. Não precisa dizer que Prudente era o que mais falava e não raramente era cobrado de não ser muito científico. Prudente era emoção pura!

Como procurador do trabalho atuou intensamente na luta contra o trabalho análogo à escravidão e em diversas outras lutas, principalmente em defesa dos negros. Após passar no concurso, deu cursos em todo o Brasil, e até numa sala que eu alugara em Niterói para cursos sem finalidade lucrativa. Ele deu aulas para muitos que hoje usam togas. Ele viajava por todo o Brasil como se fosse de um bairro para outro. Quando Lula cogitou em nomear um negro para ser ministro do STF, seu nome foi lançado. Se escolhido teria deixado o Joaquim Barbosa no chinelo, hehe.

Nossa última participação juntos foi numa palestra promovida pela AFAT sobre Lei do Motorista de 2012. Em um de seus aniversários, o que foi comemorado no Porcão de São Francisco, ele estava muito contente. Sempre conseguia aglutinar com facilidade muitos admiradores seus. Lá estava sua bela família, com suas lindas filhas e esposa, imagem de felicidade que guardo com carinho.

Prudente, sempre presente, vai ficar eternamente em nossas lembranças.

Ivan Alemão

29 de outubro de 2017